Nesta última matéria da série “Nós Somos os Oceanos”, Alice Pataxó e Alessandra Luglio apresentam suas formas de lidarem com os desastres ambientais nos oceanos. Trazendo esperança em meio ao caos!
“O povo Pataxó sempre viveu na costa da Bahia, até um pedaço de São Matheus, cidade do Espírito Santo, esse território é muito importante para nós, por um processo de coexistência com o povo Pataxó. Como consagramos e entendemos a importância dos ciclos da lua e das marés, e como isso rege nosso plantio, nossa colheita e como tudo isso gere nossa vida para que tudo possa fluir.
O mar é uma das coisas mais importantes para nós Pataxós, é uma conexão de respeito e de necessidade. Colaboramos e somos parte dele!
Nosso nome inclusive vem do barulho do mar, o som que fazem as ondas quando batem nas pedras. Contam as histórias, que originalmente um cacique preocupado sobre como nomearia seu povo, ouviu o barulho do mar para se inspirar, e sentiu um chamado ao povo Pataxó. Eu gosto muito dessa lenda”. Destacou Alice Pataxó, que acrescentou:
“A natureza não é nossa, nos foi emprestada, e temos um dever sério de protegê-la, o que se fortalece muito com nossos rituais, nossas relações com o chá que fazemos, a energia que as plantas emitem, a licença que pedimos para retirar qualquer planta da natureza, tendo a consciência de que o planeta é vivo e devemos respeitá-lo”.
Futuro ancestral: De Ailton Krenak

“Quando falamos disso, falamos muito sobre o jeito Pataxó de entender o futuro, porque é uma palavra que não existe no nosso vocabulário (futuro), então criamos a palavra amanhã. Justamente para entender essa necessidade que nós não temos, de precisar se ligar ao que acontece no futuro, ele é imprevisível, e nem sabemos se estaremos lá…
É sobre entender que as coisas saem do nosso controle, e tudo bem, no meio disso pensamos e refletimos no ‘agora’, que fazemos hoje. Tanto que no nosso idioma não temos palavras como ‘iria’, e sim simplesmente ‘vou’. Isso é muito interessante porque nos faz pensar de todo habito de vida que levamos hoje, com o capitalismo, estão muito associados à isso… Quando pensamos sobre futuro ancestral, refletimos se estaremos aqui neste futuro, oque temos feito enquanto comunidade, sociedade, enquanto indivíduo para que as coisas estejam em equilíbrio? Desejo muito que um futuro exista!
Me entristece muito pensar que talvez no amanhã, meus filhos e netos não conheceram os animais que conheci, as plantas que conheço hoje dentro da minha comunidade. Já perdi muito das experiências de meus tios e avós, imaginem a nova geração? Nem nasceram ainda e já estão perdendo”. Alice dissertou sobre sua compreensão da frase dita por Ailton Krenak, liderança do movimento indígena no Brasil a gerações.
Para Alessandra Luglio, o veganismo é a salvação dos Oceanos?

Imagem: Alessandra Luglio (Nutricionista)
“Eu acredito que o veganismo seria o melhor caminho, e não teria como não salvar os oceanos se a população inteira fosse vegana, porém, eu te digo que a redução importante que se deve ter de todos os produtos de origem animal, e pensando no recorte do oceano, é a grande chave para salvar os oceanos hoje!”
A profissional de nutrição vegana com 10 anos de experiência acredita firmemente na “comida de verdade” como a base da alimentação. Ela observa que uma alimentação balanceada e equilibrada, baseada em alimentos simples, tem frequentemente cerca de 80% de seus componentes veganos, focando em fontes calóricas como cereais, raízes, feijões e derivados de soja, sendo que estes últimos têm se tornado mais acessíveis financeiramente, até mesmo em comparação com ovos. A profissional afirma que é totalmente possível garantir o aporte de todos os nutrientes necessários através de refeições veganas balanceadas, equilibradas e com um paladar diversificado, ressaltando como a alimentação sempre deveria ter sido.
“Não existe saúde humana sem saúde planetária, e sem os oceanos não existiremos! Como disse Paul Watson, fundador da Sea Sheperd: ‘Se os oceanos morrem, todos nós morremos’. Devemos entender um limite, e respeita-lo”.