Nesta série especial de três matérias em colaboração com a organização internacional de proteção aos oceanos e vida marinha, Sea Shepherd Brasil, com a ativista indígena Alice Pataxó e a nutricionista Alessandra Luglio, descobriremos o quanto os oceanos são importantes para a vida de todos no planeta, e como ele está sendo destruído diariamente por grandes indústrias.
A Conexão Vital do Planeta: Por Nathalie Gil

“Devemos entender nossa ligação ecológica com o oceano, essencial à vida na Terra, assim como a água compõe nosso corpo e grande parte do planeta, passando por ciclos vitais. A biosfera terrestre, com sua biodiversidade, incluindo microrganismos importantes como os do nosso estômago, é crucial para a vida. O oceano desempenha muitos papéis nessa teia, como a produção de cerca de 80% do oxigênio que respiramos por milhões de anos. A vida marinha, desde bactérias até grandes animais, é vital para o oceano e depende da estabilidade da cadeia alimentar. Desequilibrar essa cadeia afeta a produção de oxigênio e a capacidade do oceano de absorver carbono, acidificando suas águas. Portanto, desde o lixo e toxinas que descartamos até a pesca excessiva, nossas ações desequilibram o oceano, e em resumo, se o oceano morre, nós morremos.”
O ciclo destrutivo do plástico: Do petróleo aos oceanos e à nossa saúde

“Quando falamos de microplásticos, devemos falar sobre plásticos, que foram inventados a partir do petróleo na década de 50. Ele é um resíduo gerado na refinaria do petróleo. Com o tempo, percebeu-se o quão resistentes eles são, com seu poder de serem altamente flexíveis, podendo ser adaptados a diversos formatos e soluções, e claro, pela durabilidade, podendo durar até, por exemplo, 400 anos.” destacou Nathalie, que exemplificou as centenas de toneladas de plástico que estão hoje nos oceanos.
“Microplásticos são partículas menores que 5mm. Eles podem se tornar micro de diversas formas, tanto plásticos maiores se decompondo e se quebrando, quanto sendo gerados por fibra de roupa sintética ou saindo dos pneus dos carros ao raspar no asfalto. Inclusive, estes são os dois meios que mais produzem microplásticos diretamente no mundo hoje”. Dados do Instituto Friends Of The Earth.
“E quando vemos plásticos em pedacinhos servindo como alimento de espécies que enchem suas barrigas desses fragmentos, causa-se o efeito de inanição quando o animal pensa que está com a barriga cheia e morre de fome.” Nesta fala Nathalie explica o processo de inanição e os impactos diretos na vida marinha.
“E mesmo quando o plástico é muito pequeno e passa pelo processo digestivo do animal, ele intoxica o sangue e o corpo dos bichos, o que acaba nos afetando diretamente.”
A presidenta da Sea Shepherd ainda ressaltou os perigos a saúde humana do microplastico: “É previsto que o ser humano consuma cerca de um cartão de crédito por semana de microplásticos através dos peixes, o que vai parar em todo o nosso corpo.”
“Cientistas já acharam, por exemplo, plástico em leite materno e até no cérebro de seres humanos, e a consequência disso é que, pela toxicidade do plástico, comprovadamente nos causa diversas doenças silenciosas como câncer e doenças que danificam o sistema de reprodução. Hoje, nós temos mais de 700 espécies de animais em risco de extinção diretamente atrelados ao plástico e seus danos no oceano.” pontuou Nathalie.
Impacto da poluição industrial e agrícola nos oceanos

“É crucial somar todas as indústrias que poluem intensamente os oceanos, como a agricultura, que utiliza agrotóxicos e fertilizantes despejados inadequadamente na água, causando descontrole e toxicidade no mar.”
“No caso da mineração, gera-se muito mercúrio que polui os rios, como na Amazônia, e toda a água desagua no oceano, poluindo-o. Os fertilizantes despejados nos oceanos provocam, por exemplo, um desequilíbrio com o rápido crescimento de algas e outras plantas marinhas, que acabam sufocando o ecossistema marinho onde proliferam”.
Nesta fala de Nathalie, a mensagem central é que diversas fontes de poluição terrestre convergem para os oceanos, causando danos significativos aos ecossistemas marinhos.
Em cem anos, ao longo do século 20, a poluição na superfície dos mares pelo metal mercúrio mais do que dobrou, apontam as pesquisas, publicadas em uma edição especial do periódico “Environmental Health Perspectives”, em dezembro de 2012.
Além do consumo: Os danos da pesca para a saúde dos oceanos

“Temos técnicas de pesca cada vez mais avançadas, como por exemplo a pesca de arrasto, que é altamente destrutiva”.
Dados tragos por Nathalie mostram que a pesca de arrasto destrói mais biomas marinhos do que os incêndios florestais do mundo todo.
“A pesca de arrasto não danifica apenas os fundos dos oceanos, mas também desequilibra a cadeia de espécies marinhas quando são retirados números avassaladores de espécies por ‘acidente’”.
Segundo artigo publicado na revista Science, o arrasto de fundo leva à morte 4,2 milhões de toneladas anuais de espécies não-alvo, ameaçando os ecossistemas oceânicos em todo planeta.
“A pesca industrial tem sido muito destrutiva ao planeta, muito predatória e está gerando um grande peso na manutenção dos oceanos para que eles continuem saudáveis.“
Nathalie enfatiza que a pesca de arrasto é uma técnica altamente destrutiva, causando danos significativamente maiores ao fundo do mar do que os incêndios florestais.
Na próxima matéria: Oceanos e a Alimentação, como a destruição dos oceanos afeta diretamente a saúde humana? Com Alessandra Luglio e Alice Pataxó.