Os influenciadores João, Alan, Wesley e Caio contam bastidores do programa ‘VDN’ e abrem coração sobre vida pessoal, abordando temas como sexualidade e saúde mental.
1° – Como vocês se “descobriram” homens gays?
Alan: “Eu me assumi muito cedo, com 17 anos. Mas desde muito pequeno eu sempre fui fora do meio entre meus amigos e primos, nunca me interessei pelo futebol, pela pipa, sempre fui mais retraído que ficava mais com as meninas. Quando eu tinha ali os meus 15 a 16 anos, comecei a conversar com um menino, me surgiu um sentimento estranho, e daí acabei me assumindo.

João: “Desde quando eu tinha nove aninhos, eu já sabia que era diferente dos meninos ao meu redor, entrou um menino muito bonito na minha sala, novo e tals, todas as meninas falavam dele e eu percebi que eu também. Com nove anos eu não entendia ao certo o que era ser gay, e até os meus 16 anos fiquei me questionando, quando eu decidi contar pra minha mãe no último dia do ensino médio.
Cheguei na minha mãe e perguntei: ‘Eu posso ser feliz?’, e ela respondeu; ‘Você estando feliz, eu estou feliz!”. A partir daí me tornei a pessoa que eu sou hoje.”
Caio: “Eu sempre segui o estereótipo de criança ‘viada’, eu vestia as roupas da minha mãe. Meu desenho favorito era ‘Clube das Winks’ e meu filme favorito era ‘Tarzan’, não sei por que. Meu pai mesmo sendo militar, sempre foi muito tranquilo, assim como minha mãe, que deixava eu brincar de Barbie, com minha irmã mais nova. Até tentava imitar meu irmão mais velho, na masculinidade e tals, mas amava brincar com minha irmã de boneca.
Quando tinha mais ou menos meus 10 anos, senti pela primeira vez um crush por um menino na escola, e com meus 12 resolvi contar para os meus pais que gostava de meninos, que foi muito tranquilo dentro de casa. E mesmo assim, nós enquanto pessoas gays vivemos nos podando e diminuindo para não sofrermos preconceito lá de fora, isso foi o que meus pais sempre se preocuparam comigo”.
Wesley: “Quando eu era pequenininho, bem branquinho igual um anjo, meu pai e meu tio me levavam pra passear na praia com meu primo, no intuito das mulheres virem falar com a gente, e meu primo gritava ‘gostosa’; ‘delícia’, e eu gritava ‘linda’; ‘maravilhosa’. Eu sempre tinha traços, mas brincava muito com meninos na rua também, com os meninos.
Por eu ir pra igreja, foi mais difícil pra me assumir, eu acreditava que iria para o monte para me curar e etc… Minha mãe começou a trabalhar na empresa da minha madrinha que tinha muitos gays, e ela começou a ficar mais amaciada, foi quando mandei mensagem pra ela por telefone, aos 15 anos: ‘Mãe, você me ama?’, ela respondeu que sim e perguntou o porque; ‘Porque quem ama aceita a pessoa como é!’, daí revelei que sou gay.
No princípio foi assim, até que num almoço com minha madrinha ela perguntou se eu estava fazendo algo, para que eu tomasse cuidado e usasse camisinha todas as vezes que fosse fazer. Foi assim, já estava claro!”
2° – Vocês sempre tiveram este sonho de trabalhar com comunicação?
João: “Desde pequeno, sempre quis ser jornalista! Mas a minha vida tomou rumos diferentes, por exemplo, sou formado em comissário de voo, e nunca exerci a profissão, fiz medicina veterinária e educação física, desisti das duas no meio do caminho.
Eu não esperava estar trabalhando na internet, tendo um programa de entretenimento para a comunidade, unindo pessoas. Hoje eu estou onde estou, mas jamais imaginaria estar aqui, encontrar Alan, Caio e Wesley. Sabe o que é mágico? As pessoas comprarem a minha ideia, de um projeto que surgiu de uma dificuldade minha com os meninos, e hoje somos vistos por mais de 28 milhões de brasileiros em um projeto de 8 meses. Somos novos e estamos criando nosso espaço dentro e fora da comunidade.”
Alan: “Não gostava muito das redes, mas fora dela sempre fui uma pessoa sem limites. O rolê dos meus amigos era legal quando eu estava lá, eles sabiam que eu iria aproveitar ao máximo e fazer algo muito estrondosa.
Meus amigos falavam muito que eu deveria ir para a internet, porque sempre fui essa pessoa louca da cabeça. Eu trouxe isso pro ‘VDN, essa parte de ser desbocado, de falar o que eu penso.
Caio: “Sempre quis ser ator, venho dessa linha de gays teatrais mesmo, de musical. Todos nós temos quase a mesma idade, a não ser a Pastora (Alan), que é um pouquinho além, mas todos nós vivenciamos muitas coisas em comum, com gostos parecidos, tipo ‘Glee’; ‘Rebeldes’, ‘High School Music’. Minha mãe me colocou no teatro dos 10 aos 12, onde me projetei no futuro, tanto que com 16 anos comecei a fazer a arte drag queen. Mas por motivos da vida tive que deixar algumas coisas para trás.
Quando eu apareci no VDN, foi literalmente na primeira vez que eu entrei no TikTok, eu subi na live, os meninos gostaram, o João postou um recorte meu, que viralizou. Nem todos, mas a maioria dos gays tem um dom pra comédia, e hoje eu brinco com os participantes, usando a comédia.”
Wesley: Amigo, desde muito pequeno eu acompanhei programas de humor, sempre fui desta veia cômica. Pra minha família, em churrasco eles pediam pra mim contar piadas, imitar minhas tias, meus primos, eu tinha esse dom de ser muito rápido mas piadas. Lembro que desde pequeno gravava vídeo no Vine, tendo como meu ídolo principal o Lucas Rangel, até conhecer o Paulo Gustavo, MTV, e todas essas inspirações…
Meus amigos sempre falavam que eu tinha que ir para a internet, minha família também, mas eu pensava que nunca iria conseguir, e assim como os outros fui começar a estudar, trabalhar na área de recursos humanos, e não entendia que meu propósito era lá pra frente. Mas eu não me culpo, pois foi no meu pior momento que conheci as lives no TikTok, quando conheci o João.“
3° – Importância do papel do VDN e na saúde Mental
João: “Eu acho incrível, Henrique, que eu recebo mensagens falando que o VDN é a terapia delas. O VDN hoje não é só um canal de entretenimento, e sim de acolhimento e fonte de apoio a muita gente”. Pontuou João, que acrescentou:
“Tem uma caso muito interesante, de uma menina que tomava remédios para dormir porque havia perdido o marido, ela me relatou que através das lives ela parou de tomar remédios, nós alegramos ela”.
Alan: “Eu conheci uma menina que me emocionou muito, o nome dela é Tainá. Ela sofreu um acidente de carro e perdeu um dos braços, perdendo também o sentido da vida. Ela me contou que o VDN deu sentido a vida dela, que voltou a estudar, trabalhar, começou o tratamento para colocar uma prótese no braço… então isso pra gente nos mostra que estamos no caminho certo.”
Caio: “Durante minha adolescência eu tive um problema com o uso e abuso de substâncias, durante os meus 20 e 24 fiquei sóbrio, sem beber e usar nada. Um dos motivos principais para uma pessoa usar substâncias é sua saúde mental estar abalada, oque não é muito falado.”
“O quão entrelaçado está o fato do preconceito que sofremos e que muitas vezes você tem consigo mesmo, com o escapismo no uso de substâncias. Fui buscar aceitação nos outros, porque eu não me aceitava, e pra isso eu entrei na galera, fazendo oque eles faziam, incluindo o uso de substâncias. Hoje tenho uma visão sobre que precisamos abordar estes temas, nós no VDN abordamos isso de forma mais leve, de dizer que olhamos para cada um que esteja passando por algo e enxergamos eles.”
Wesley: “Todos temos histórias que nos marcam de alguma forma. Eu tenho s história de um menino chamado Pedro, que perdeu seu namorado e estava pensando em fazer besteira com a própria vida, quando entrou nas redes e viu nossos vídeos, mudamos a realidade dele naquele momento, levando alegria.
Quando você ri, sua mente esvazia, e um momento de cura. É muito bom saber que salvamos vidas, não tínhamos essa compreensão no início, mas agora é gratificante pra gente. Estamos entendendo vidas! Entendendo histórias!”
Como conclusão, os meninos se disseram prontos para levarem o VDN a lugares mais distantes, seja na TV ou no streaming.