Após mais de uma década acompanhando os casos do casal Ed e Lorraine Warren nas telas, Invocação do Mal 4: O Último Ritual chega como o suposto encerramento da franquia principal. Porém, em vez de entregar uma conclusão à altura do legado iniciado por James Wan em 2013, o filme se contenta em ser um epílogo preguiçoso, medíocre e excessivamente conveniente.
O roteiro parte de um dos relatos mais perturbadores da realidade, o caso da família Smurl, que enfrentou anos de experiências paranormais intensas. Mas, em vez de mergulhar de fato na complexidade e no horror dessa história, o filme transforma o episódio em uma muleta narrativa: ele existe apenas para justificar a presença dos Warrens, sem nunca nos permitir conhecer de verdade quem eram os Smurl ou por que seu drama foi tão marcante nos registros sobrenaturais. A família é tratada como figurante de luxo, deixando claro que o foco não está em seu sofrimento, mas na insistência de revisitar — de forma cada vez mais melosa — a história de amor de Ed e Lorraine.

Não que o vínculo entre os dois não seja um dos grandes trunfos da franquia. Desde o primeiro filme, a química entre Patrick Wilson e Vera Farmiga dá coração a uma série que poderia se resumir a sustos fáceis. O problema é que O Último Ritual força essa dinâmica até o limite, apostando no melodrama como substituto para uma narrativa sólida de terror. Em vez de tensão crescente, temos clichês reciclados, sustos previsíveis e diálogos que soam mais como fan service do que como desenvolvimento real.

A pior escolha, contudo, foi a insistência da Warner em entregar os dois últimos capítulos da saga nas mãos de Michael Chaves. Após o desastroso A Maldição da Chorona e o irregular Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, Chaves volta a mostrar sua incapacidade de criar atmosfera. Seu estilo se resume a truques visuais datados, sustos de impacto vazio e uma direção que não entende o peso da mitologia criada por Wan. O resultado é um filme sem identidade, que não assusta, não emociona e nem mesmo honra a trajetória dos personagens.
Como encerramento, Invocação do Mal 4 falha em todos os aspectos: não entrega um caso memorável, não desenvolve os personagens secundários e tampouco dá uma conclusão satisfatória aos protagonistas. Fica a sensação de que a franquia, que começou com frescor e criatividade, se esvaziou ao longo do tempo, vítima de escolhas apressadas e de um diretor incapaz de traduzir o terror para além da superfície.
No fim, O Último Ritual não é apenas um fechamento anticlimático para Ed e Lorraine Warren — é também um lembrete de como Hollywood, quando guiada mais pela conveniência do que pela inspiração, pode transformar uma saga brilhante em um ritual cansado.