Baseado na impressionante história real de Larisa Savitskaya, “A Única Sobrevivente” reconstrói um dos acidentes aéreos mais chocantes da União Soviética: a colisão entre um avião comercial e um bombardeiro militar em 1981. Entre dezenas de passageiros, apenas Larisa (Nadezhda Kaleganova) sobrevive — e desperta no coração gelado da taiga siberiana, sozinha, ferida e cercada por um silêncio que é tão ameaçador quanto a queda que acabou de enfrentar.
O filme brilha ao adotar uma abordagem realista e contemplativa. Não há excesso de heroísmo ou artifícios melodramáticos: o terror vem da vulnerabilidade crua, do frio cortante, do som distante da floresta e da constatação de que o resgate pode nunca chegar. A fotografia reforça o peso emocional — cores sépia e tons frios marcam a solidão e o isolamento, enquanto memórias fragmentadas da protagonista ganham um contraste visual que acentua a melancolia.
Além da tensão física, há também a camada política. O roteiro não ignora o pano de fundo da União Soviética, expondo a tentativa do regime de abafar a tragédia. Essa dimensão histórica acrescenta profundidade, transformando o drama de sobrevivência em um retrato incômodo do poder e da manipulação de narrativas.
Ainda assim, “A Única Sobrevivente” não é isento de falhas. O ritmo, em certos momentos, parece apressado, e algumas subtramas são introduzidas sem a devida integração ao arco principal. Essas interrupções tiram parte da imersão, especialmente para quem espera um fluxo narrativo mais orgânico.
No fim, porém, o longa cumpre seu papel: é intenso, visualmente marcante e emocionalmente desgastante — no melhor sentido possível. Mais do que um relato de resistência física, é uma história sobre a força de vontade e a luta silenciosa de quem se recusa a desaparecer.
Com direção de Dmitriy Suvorov e montagem de Tim Pavelko, o filme estreou no Brasil no dia 7 de agosto exclusivamente no streaming Adrenalina Pura+.