quarta-feira, setembro 10, 2025
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Crítica – 3 Obás de Xangô (2025)

3 Obás de Xangô é um documentário de 2024 dirigido por Sérgio Machado (Cidade Baixa, A Luta do Século), que chegou aos cinemas no último dia 4 de setembro. A produção é fruto da Coqueirão Pictures em parceria com Janela do Mundo, Globo Filmes e GloboNews, distribuída pela Gullane+.

O documentário explora a amizade profunda e espiritual entre três ícones baianos – o escritor Jorge Amado, o músico Dorival Caymmi e o artista plástico Carybé – todos títulos honoríficos como Obás de Xangô no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá na Bahia.

Através de suas artes — literatura, música e artes visuais — eles ajudaram a moldar o imaginário da “baianidade” e a consolidar um profundo respeito às tradições afro-brasileiras, especialmente à religiosidade, às mulheres e ao mar.

Narrativa e estilo

O enredo se desenvolve através de uma montagem harmoniosa entre imagens de arquivo, manuscritos, correspondências, trechos de filmes adaptados de obras de Amado, entrevistas com depoentes como Gilberto Gil, Muniz Sodré, Lázaro Ramos, Itamar Vieira Jr., além de líderes do candomblé como Mãe Stella de Oxóssi. A narração envolvente de Lázaro Ramos confere intimidade às cartas lidas em voz alta.

Estética e segurança espiritual

Visualmente, o filme é vibrante e imersivo, celebrando o mar, as cores e a alma da Bahia. A espiritualidade do candomblé não é tratada como um tema exótico, mas como força motriz da cultura e do trabalho dos artistas. Essa abordagem respeitosa transforma o filme em uma aula sensível sobre ancestralidade e resistência cultural.

Prêmios e recepção pública

3 Obás de Xangô colecionou prêmios: Melhor Documentário no Festival do Rio 2024, Grande Otelo, prêmio do público em Mostra de São Paulo e Mostra de Tiradentes. O público, segundo o diretor, reagiu com forte emoção e sensação de pertencimento.

Com uma afetividade e humanidade, 3 Obás de Xangô é um retrato caloroso da amizade entre os três artistas, transmitido com sinceridade e emoção. O uso de imagens da Bahia cria uma experiência quase tátil, reforçando o poder emocional e cultural da estética. A religiosidade é tratada com reverência, humanizando a espiritualidade e conectando-a às artes.

Apesar da desigualdade na representação mantendo Carybé recebendo menos tempo de tela em comparação com Amado e Caymmi, o que acaba comprometendo o equilíbrio pretendido pela narrativa tríplice.

3 Obás de Xangô é uma homenagem comovente à amizade, à arte, à cultura e à espiritualidade baianas. Com sensibilidade estética e narrativa, o filme celebra figuras que moldaram um imaginário duradouro. Apesar de um traço de desequilíbrio na proporção de destaque entre os protagonistas, a película emociona, ensina e encanta — consolidando-se como uma experiência audiovisual sensível e culturalmente poderosa.

Niedja Pantaleão
Niedja Pantaleão
Niedja, 36 anos, é natural de Olinda e fundadora do site, onde também atua como editora-chefe. Jornalista há 20 anos, tem no cinema uma de suas maiores paixões e é uma verdadeira maratonista de séries. Desde criança, rádio e televisão sempre fizeram parte da sua vida, alimentando a curiosidade e o entusiasmo que hoje se refletem em sua trajetória no jornalismo cultural.
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