quinta-feira, outubro 23, 2025
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Crítica – Se Não Fosse Você (2025)

A adaptação de “Se Não Fosse Você” (Regretting You), baseada na obra best-seller de Colleen Hoover e dirigida por Josh Boone (conhecido por A Culpa É das Estrelas), chega aos cinemas carregada de expectativas dos fãs do material original, mas tropeça feio ao tentar traduzir a intensidade do drama e romance para a tela grande, resultando em um pífio melodrama.

O filme narra a complexa relação entre mãe e filha, Morgan e Clara Grant, abalada por uma tragédia e uma revelação que expõe segredos familiares. O foco em temas como luto, perdão, laços familiares e descobertas da juventude prometia um drama pungente. Contudo, a execução se mostra superficial e, na maioria das vezes, artificial.

Excesso de polimento e falta de autenticidade

O sofrimento, que deveria ser a espinha dorsal da história, é retratado excessivamente de forma “hollywoodiana”. Os personagens, mesmo em meio a traumas, parecem impecáveis e maquiados, quebrando a ilusão de dor e sofrimento que o material original evoca. A adaptação, ao buscar um forte apelo comercial, sacrifica a crueza e a autenticidade emocional.

Foto: Jessica Miglio / Paramount Pictures

Ritmo desequilibrado e previsibilidade

Para quem conhece a obra de Hoover, a previsibilidade dos acontecimentos pode ser um fator atenuante, mas para o espectador casual, o filme não consegue construir um suspense dramático envolvente. O ritmo oscila entre a morosidade e a pressa ao resolver conflitos complexos, e isso deixa a sensação de que a equipe de produção negligenciou pontos importantes no desenvolvimento dos personagens.

Personagens secundários desperdiçados

Embora o elenco principal (com destaque para as atuações de Allison Williams e Mckenna Grace) se esforce para dar profundidade a Morgan e Clara, os personagens secundários – cruciais para a teia de relações – são reduzidos a meros coadjuvantes de cena ou alívios cômicos rasos. Essa falta de desenvolvimento enfraquece o impacto das revelações e dos conflitos que os envolvem.

Açúcar demais no drama

O tom açucarado e romântico da década de 2000, embora atraente ao público jovem, dilui a seriedade e complexidade dos temas dramáticos centrais do filme. O resultado é um drama que parece mais um melodrama televisivo, pouco arriscado e ineficaz em tocar o público em um nível mais profundo.

Apesar das falhas estruturais, existem competências técnicas de produção e esforço do elenco. A direção segura de Boone resulta em visual limpo e trilha sonora previsível. Tenta, desesperadamente, conectar-se ao público jovem, mas sem ousadia. O filme tem coração, oferecendo drama romântico simples e envolvente em momentos pontuais, ideal para quem aceita sua previsibilidade e verniz excessivo.

Se Não Fosse Você” é, em suma, uma adaptação que preferiu o caminho mais fácil e comercialmente seguro, falhando em capturar a intensidade e a complexidade que tornaram o livro um sucesso. É um drama que se contenta em ser apenas “bonitinho”, ao invés de ser corajoso, e por isso, acaba se tornando um drama romântico sem conexão, que servirá apenas como mais uma adição aos catálogos de streaming após deixar os cinemas.

Niedja Pantaleão
Niedja Pantaleão
Niedja, 36, é jornalista olindense e fundadora do site, onde atua como editora-chefe. Apaixonada por cinema e séries, dedica-se ao jornalismo cultural há 20 anos.
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